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Diferente de outros, Corpo de Bombeiros Militar de Rondônia tem atuação amazônica e internacional


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Nas décadas de 1950 e 1960, moradores de Porto Velho se esforçavam para apagar incêndios com bacias, latas e baldes de água vindos dos poços de seus quintais.  Hoje, soldados do Corpo de Bombeiros Militar de Rondônia (CBM-RO) estão treinados para subir às alturas, mergulhar nos rios amazônicos e sobreviver na selva.

O CBM-RO chega aos 21 anos em Rondônia no próximo dia 2 de julho, destacando-se pelo setor operacional cada vez mais equipado e pelo atendimento a flagelados de cheias em rios do Acre, Amazonas e Rondônia.

O aniversário coincide com o Dia Nacional do Bombeiro Militar e nele o comandante da corporação, coronel BM Demargli da Costa Farias enaltecerá o papel de cada soldado, o aprimoramento das ações e os cursos ministrados para evolução e qualificação de todos eles.

Ao assumir a maioridade, o CBM-RO se destaca pelo triunfo do soldado mais moderno ao oficial mais antigo. E na frase do comandante, isso acontece “diante da caminhada sobre pedras de difícil transposição”.

Desde o período territorial, a presença dos bombeiros transcende às necessidades de Porto Velho. Hoje ele atua no estado e ainda socorre a vizinha Bolívia, que não dispõem de bombeiros na região fronteiriça.

Tripulantes do Grupo de Operações Aéreas do CBM-RO já fizeram até parto nas alturas. Suas aeronaves também auxiliaram operações de resgate de vivos e mortos na Floresta Amazônica.

“São ações marcadas por alta dose de coragem e heroísmo no cumprimento da inexorável missão de vidas alheias e riquezas a salvar”, assinala o comandante.

O mais recente socorro internacional foi prestado a moradores que tiveram casas incendiadas na pequena cidade boliviana de Buena Vista, no rio Guaporé, vizinha à cidade de Costa Marques, a 740 quilômetros de Porto Velho.

Ali, bombeiros debelaram o fogo que começou na noite de segunda-feira (24), propagando-se até terça-feira (25). O governador do estado, coronel Marcos Rocha, sobrevoou a região, determinando à PM e à Secretaria Estadual do Desenvolvimento Social o acolhimento a vítimas bolivianas, fornecendo-lhes agasalhos e gêneros alimentícios.

FOGO !

No início dos anos 1960, a pequena loja do seu Camelo, emendada a outras próximas ao antigo Café Santos (Edifício Ji-Paraná), na confluência da Avenida Sete de Setembro com a Rua Prudente de Morais, começava a ser consumida pelas chamas, quando soldados da Guarda Territorial se juntaram para socorrer o dono.

O subtenente da Guarda Territorial Jairo de Freitas Saraiva, amazonense, foi um dos socorristas, conta o filho Samuel Sales Saraiva. “Meu pai foi chamado as três (horas) da madrugada, e juntou-se a outros guardas com baldes cheios d’água; foi tudo no braço, sem carro-pipa, sem mais nada”, relata.

Mercado Municipal de Porto Velho em 1950

Outro incêndio pavoroso ocorreu em 17 de agosto de 1966 no Mercado Municipal, em frente ao Palácio Presidente Vargas, antiga sede governamental. O subtenente Jairo também esteve lá, com a mesma boa vontade, juntando-se a comerciantes e outras pessoas que se valeram de baldes d’água para tentar apagar as chamas que destruíram a metade do prédio.

“Pouco puderam fazer”, lembra o memorialista Anísio Gorayeb: “Moradores de Porto Velho assistiram as chamas consumirem o seu maior centro de compras; eu e meu saudoso pai vimos tudo da frente do antigo Porto Velho Hotel (ao lado do antigo palácio do governo)”.

O BO (boletim de ocorrência) não evidenciou claramente a maneira como ocorreu o fogo no mercado. Cogitou-se que ele teria sido criminoso, supostamente provocado por interessados em receber seguros ou de se apossar do terreno de alto valor comercial.

Transformado em espaço cultural em 15 de maio de 2010, o mercado foi uma das mais demoradas obras de Porto velho, conta Gorayeb. “Possuía área edificada de 10 mil m² e sua construção fora determinada pelo primeiro superintendente (prefeito) de Porto Velho, major Fernando de Souza Guapindaia Brejense, a partir de 1915, passando pelas administrações de Joaquim Tanajura e Ruy Cantanhede, em 1950”.

“Em seus salões interiores ficavam os balcões de comercialização de carne, peixe, quelônios, aves, hortaliças, frutas regionais agrícolas e de coletas florestais – açaí, bacaba, patuá, pupunha, uxi, tucumã, pajurá, buriti, entre outras”, descreve o historiador e acadêmico de letras, Abnael Machado de Lima.

“Na frente, quatros grandes portões davam acesso ao interior do prédio, e ali ficavam os vendedores ambulantes com seus tabuleiros de doces caseiros, tapioca, beijus, cuscus, mingaus, sucos de variadas frutas, queijos, manteiga de ovos de tartaruga, tacacá e outros; também havia bares e lojas em suas quatro faces, e estas vendiam couros e peles de animais silvestres, pelas de borracha, tecidos, sapatos, conservas enlatadas, querosene, banha de porco, utensílios domésticos ferragens, joias, armas, munição, pólvora, e brinquedos e outros”, ele acrescenta.

EFETIVO ATENDE A 15 UNIDADES

Desde o início do funcionamento oficial, dispunha de apenas 182 homens no prédio do antigo Mercado Municipal, no Bairro Embratel, e hoje suas 15 unidades no estado contam com 762 integrantes, dos quais, 102 mulheres. Destas, uma é a 1º tenente Daniela Cristina de Lima, pilota de helicóptero, e a tenente Lucelma Pereira Cordeiro, atual diretora do Colégio VII Tiradentes da PM.

O subcomandante coronel BM Gilvander Gregório de Lima destacou os mais recentes investimentos governamentais na corporação: “No ano passado, recebemos dos Estados Unidos o avião Gran Caravan, incorporado à frota do GOA para serviços diversos, e agora aguardamos as escadas mais duas Magirus”, ele assinala.

Essas escadas são do modelo Magirus 42m e 60m, são similiares ao modelo 37, porém mais ágeis e potentes.

Corporação tem atualmente 762 integrantes, dos quais, 102 mulheres, e destas, duas oficiais em postos de comando

O governo investiu R$ 9 milhões nesses novos modelos que têm plataforma giratória, capacidade para mais 2.500 litros por minuto, adaptação a ambientes pequenos, possibilidade de resgate em até 60 metros de altura, e alcance de água em até 100 metros.

O GOA auxiliou também o Setor de Tratamento Fora de Domicílio da Secretaria Estadual de Saúde, no transporte de pessoas doentes para hospitais entre as regiões nordeste, centro-oeste, sudeste e sul do País.

FESTAS E HOMENAGENS

O Dia Nacional do Bombeiro Militar será festivo. Oficiais militares, praças e autoridades civis serão condecoradas com as Medalhas do Mérito Militar, Tempo de Serviço e Imperador D. Pedro II.

O comando do CBM-RO anunciou dois eventos para comemorar os 21 anos: um deles, a 17ª Bike Trilha Ecotur, esportiva e beneficente, acontecerá no próximo sábado (29) em Guajará-Mirim, na fronteira brasileira com a Bolívia. O segundo é a 19ª Corrida do Fogo, em Porto Velho, no próximo dia 20 de julho.

As provas reúnem categorias de cadeirantes crianças e adultos no percurso de cinco quilômetros; pelotão, cinco quilômetros; militar com calça e coturno, dez quilômetros; público geral, dez quilômetros; e um pequeno percurso para crianças e jovens, próximo ao quartel do Bairro Olaria.

No dia dois, uma terça-feira, a incorporação da Bandeira Nacional dará início à solenidade previsto para 16h45, com as presenças dos comandantes do CBM-RO, coronel BM Demargli da Costa Farias, e da Polícia Militar, coronel PM Ronaldo Flores Corrêa.

Após a apresentação da tropa, os convidados cantarão a Canção do Soldado do Fogo, sob os acordes da Banda de Música da PM.

DO TEMPO DA GUARDA TERRITORIAL

Amazonense nascido em Humaitá, o falecido capitão Esron Penha de Menezes chegou em 1927 a Porto Velho e graças a ele, a cidade, ainda com menos de cem mil habitantes, teve seu primeiro Corpo de Bombeiros.

Foi assim, conforme apurou a Secom na série de matérias a respeito de ex-governadores territoriais e estaduais: o ex-presidente Getúlio Dornelles Vargas voltava ao poder em 1951 pelo voto popular recebido nas eleições de 50. Duas semanas antes de inteirar o curto mandato [11 meses e 16 dias, de 22 de fevereiro de 1951 a 7 de maio de 1952, o então governador Petrônio Barcellos transmitiu o cargo a Jesus Burlamaqui Hosannah, e foi ele quem reorganizou a Guarda Territorial criada em 1944 pelo ex-governador, coronel Aluízio Ferreira.

Nessa reorganização, ele criou o Corpo de Bombeiros e concluiu o Porto Velho Hotel, que já foi Palácio das Secretarias e atualmente é sede administrativa da Unir.

“Os incêndios eram constantes em Porto Velho”, observa o mestre em História Pascoal de Aguiar Gomes, em pesquisa educacional apresentada na Faculdade Marechal Rondon, de Vilhena.

Em 1952, Petrônio designou dois oficiais do Exército Brasileiro para fazer o curso de bombeiros técnicos no Rio de Janeiro e para lá foram enviados os 2º tenentes Esron Penha de Menezes e Donizete Dantas – os dois primeiros bombeiros de Rondônia.

Durante solenidade no CBM-RO em três de dezembro de 2015, o comando da corporação inaugurou um busto em homenagem ao capitão Esron.

Esrom Penha de Menezes ganhou busto

Fundador da Guarda Territorial, delegado de polícia, professor, jornalista, historiador, escritor, maçom graduado da Loja União e Perseverança, ele deixou à sociedade muitos fragmentos da história territorial. Escrevia desde 1954, atuando nos jornais O Guaporé e Alto Madeira. Seus textos foram batizados de História Antiga.

Aos 14 anos, ingressou na Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, e mais tarde foi trabalhar durante cinco anos em Fordlândia (PA). Em 1932 serviu ao Exército, retornando um ano depois a Porto Velho, para trabalhar na Caixa de Aposentadoria dos Ferroviários e, novamente, na Madeira-Mamoré.

Versátil e muito dedicado ao que fazia, Esron atuou como delegado na área dos garimpos do município de Porto Velho. Já em 1958 foi escrivão eleitoral e assistente militar do governador Paulo Nunes Leal; dois anos depois, em 1960, exerceu o cargo de delegado do governo do território nas empresas construtoras da rodovia BR-29 (depois 364).

Só se aposentou em 1962, quando seguiu escrevendo a respeito de tudo o que viveu. No entanto, não parou de se dedicar às pessoas. Com a criação do primeiro Corpo de Bombeiros em 1969, ele foi seu comandante. Entre 1975 e 1976, dedicou-se à política partidária, assumindo a secretaria da Aliança Renovadora Nacional (Arena). Durante muitos anos foi assessor especial para assuntos legislativos na Prefeitura Municipal de Porto Velho.

Em 17 de janeiro de 2009, vítima de infecção pulmonar, Esron faleceu aos 94 anos no Hospital Nove de Julho. Deixou oito filhos, netos, bisnetos e dois tataranetos.

DESDE O IMPÉRIO

As comemorações de dois de julho no Brasil vêm desde a época do Império. Foi nesse dia que D. Pedro II assinou o decreto (nº 1.776, de dois de julho de 1856) de criação do Corpo Provisório de Bombeiros da Corte, no Rio de Janeiro.

Sucessivos incêndios de grandes proporções no Teatro São João (atual João Caetano), em 1824, 1851 e 1856 motivaram isso e, consequentemente, nascia a profissão de bombeiro.

O Brasil possui hoje 23 Corporações Estaduais independentes.

NOS BRAÇOS DA GUARDA

Em 1952, governador do território, Petrônio Barcelos, designou dois assistentes para participar do Curso de Bombeiros Técnicos para Oficiais, no Rio de Janeiro. Cinco anos depois, em 26 de outubro de 1957, o governador Jayme Araújo dos Santos assinou o Decreto Territorial nº. 331, que criava o Corpo de Bombeiros do Território.

O comandante responsável contava com 15 subordinados da Guarda Territorial; destes, cinco formavam o efetivo do núcleo do Corpo de Bombeiros, sediado em Guajará-Mirim, a 366 quilômetros da Capital.

Inicialmente, a Guarda cumpria algumas exigências, entre as quais, verificar a segurança das “casas de negócio” (prédios comerciais), escolas, parques de diversões, igrejas, oficinas e outros. Bombeiros tinham autoridade para multar e interditar caso constatassem irregularidades. As multas, cauções e depósitos arrecadados eram destinados à renda municipal.

Inicialmente, o atendimento era precário por falta de recursos materiais e humanos. Entre 1965 e 1967 os sinistros se intensificaram, causando prejuízos ao comércio. O incêndio do Mercado Municipal de Porto Velho ainda é lembrado como um dos piores. O governador João Carlos dos Santos Mader determinou a melhor estruturação do Corpo de Bombeiros.

O Decreto nº 500, de fevereiro de 1967 determinou o aumento do efetivo: 120 homens foram subordinados à Divisão de Segurança e Guarda, vinculada às prefeituras. O comando podia ser exercido por um oficial [Forças Armadas, Polícia Militar ou Corpo de Bombeiros], preferencialmente de patente superior.

O Corpo de Bombeiros começou a apresentar uma estrutura organizacional, dividindo a administração em Comando, Diretorias [Contabilidade, Pessoal e Serviços auxiliares] e Tropa. Foi instalado o Quartel Central em Porto Velho e o destacamento aquartelado em Guajará-Mirim.

? Com a regulamentação da PM do Território Federal de Rondônia, em 1977 foi estabelecida a Seção de Combate a Incêndio, subordinada à 1ª Cia PM, do 1º BPM, com 122 homens. Esse efetivo permaneceu por 16 anos, modificando-se em oito de setembro de 1993 pelo Decreto n.º 6078, quando se constituiu o Subgrupamento de Incêndio, com 196 bombeiros.

Em 1996 o Decreto n.º 7. 633, de sete de novembro criou o Batalhão de Bombeiros, ativado pelo Decreto n.º 7.638, de oito de novembro. O quadro passou a 750 homens.

O crescimento de Rondônia e a mudança da realidade física e humana influenciaram para que o CBM-RO fosse previsto na Constituição Estadual em 22 de Abril de 1996 [Emenda Constitucional n.º 6], e sua criação em 26 de novembro de 1997 [Lei Complementar n.º 193].

O ano de 1998 marcou o início da caminhada do CBM-RO para sua consolidação como corporação. Prevista desde a Constituição Federal, promulgada em 1988 [Lei n.º 778, de 18 março], a desvinculação só aconteceu dez anos depois. A Segurança Pública de Rondônia passou a contar com mais uma força auxiliar, além das Polícias Civil e Militar.

Os demais órgãos da Corporação [Subcomando, Estado Maior Geral, Ajudância Geral, Serviço de Apoio Logístico e Financeiro, Grupamento de Bombeiros, Comissões e Assessorias] foram acionados pelo Decreto 8.398, de três de julho de 1998. Nessa mesma data ocorreu a exclusão dos Bombeiros da PM e sua inclusão nos quadros na nova Corporação [Decretos n.ºs 8.399 e 8.400, respectivamente].

É de 1.280 bombeiros o efetivo previsto para o CBM-RO, fixado pela Lei 751, de 19 de novembro de 1997.

Desde janeiro de 2000 o CBM-RO se tornou uma unidade subordinada à Secretaria de Estado da Segurança, Defesa e Cidadania, juntamente com a PM e Polícia Civil.


Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Jeferson Mota e Arquivo Sejucel
Secom – Governo de Rondônia

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